O Futuro dos Escritórios
POR
ERICA SOUZA (ecms22)
ERICA SOUZA (ecms22)
Não é de hoje que a arquitetura e as características dos espaços corporativos refletem o contexto social e econômico de sua época. Quando olhamos para o final do século XIX com a disseminação do Taylorismo, podemos observar como os espaços corporativos eram estruturados para refletir a busca pela otimização de processos e as segregações hierárquicas que acompanhavam esse modelo.
Nesse contexto, tornaram-se comuns os mezaninos ocupados por supervisores e diretores, enquanto os demais funcionários ocupavam os andares inferiores de forma a terem sua produção monitorada. Já nos anos 50 e 60, observamos um formato de escritórios mais humanizado, porém ainda muito hierárquico com salas individualizadas que constantemente refletiam o cargo e relevância de seu ocupante.
A evolução continuou, os layouts foram se tornando cada vez mais fluidos, as salas viraram cubículos, que viraram baias até que, já nos anos 2000, o conceito de “open space” passou a ser o modelo predominante em escritórios mundo afora. Caracterizado pelos espaços abertos e integrados, o “open space” incentiva a transparência e a produtividade através da troca de ideias, da geração de novos negócios e da colaboração entre times. Além disso, é um modelo que se provou bastante econômico, tanto do ponto de vista de ocupação por metro quadrado, que foi reduzido em aproximadamente 25% em relação ao modelo anterior, quanto do ponto de vista de custo construtivo e de mobiliário.
Apesar da inegável eficiência dos open spaces, observamos nos últimos anos como a revolução digital, que tem transformado, algumas vezes de forma disruptiva, diversos segmentos da economia e da sociedade, vem impactando a relação das pessoas com seus espaços de trabalhos. A preferência por espaços de uso compartilhado (“sharing economy”), com ampla flexibilidade, ambientes abertos e agradáveis, focados no bem estar dos membros da equipe, são uma tendência irrefreável.
Em meio a essa evolução que já vinha se apresentando, fomos surpreendidos por uma pandemia, de proporções globais, que afetou todo o nosso dia a dia e nos forçou a realizar uma rápida e ampla adoção do home office, desencadeando inúmeras discussões e muita polarização de ideias sobre o futuro dos escritórios.
De um lado, aqueles que estão preferindo trabalhar de casa defendem que a produtividade pode ser maior que no escritório e que as horas economizadas no deslocamento para o trabalho são preciosas para aumentar o tempo com a família, praticar hobbies, estudar etc. Há quem diga, no entanto, que o home office limita o ambiente de colaboração e inovação e elimina a delimitação entre o espaço e o tempo destinado ao trabalho e ao lazer.
Existem ainda os problemas de ergonomia, consequentes da falta de infraestrutura, além do possível impacto sobre a saúde mental, a dificuldade de manter o nível de motivação da equipe e a dificuldade de transmitir e consolidar a cultura da empresa.
A lista de argumentos parece infinita para os dois lados e como sempre, a realidade estará provavelmente em algum lugar no meio do caminho, mas tanto quem está aproveitando o home office quanto quem está contando os dias para voltar ao escritório parece ter o mesmo incentivo: sua qualidade de vida e bem estar.
O que essa crise está ressaltando portanto é que, se no Taylorismo o foco era a otimização de processos e na era do open space, transparência e densidade de utilização dos espaços, nesse novo normal que viveremos, o foco será o bem estar, e quem busca oferecer espaços corporativos precisa entender as novas tendências e demandas. A pandemia que vivemos não está causando uma grande mudança de rumo, está apenas sendo um grande catalisador para uma tendência que já vinha se consolidando nos últimos anos.
O processo de escolha de um novo escritório será cada vez mais parecido com a escolha de um apartamento onde vamos morar e serão levados em conta valores tangíveis e intangíveis. Quanto vale uma arquitetura realmente diferenciada? E a iluminação natural? Um espaço para descompressão ao ar livre, uma varanda? Esse espaço reflete sua identidade? É tudo muito similar excetuando o fato de que, ao contrário do peso do aluguel de um apartamento no orçamento familiar, o custo médio de aluguel para as empresas, não chega a representar 2% da receita dessas companhias². Menos de 2% da receita!!! Enquanto o impacto na produtividade, bem estar dos empregados e na identidade da empresa são quase imensuráveis.
Se a convicção sobre a nossa tese de investimentos já era grande antes da pandemia do Covid-19, ela agora é ainda maior. Seguimos, portanto, acreditando que estamos sim vivendo um momento de transformação que continua a mudar o perfil dos escritórios, mas que quem conseguir entender os “drivers” de valor desse novo mercado e tiver um portfólio adaptado a eles, deverá colher os frutos dessas mudanças.
² Pesquisa realizada pela Savills entre as empresas que compõem o S&P